Lutando pela visibilidade da Distonia – A história da Elizabete Tavares

14718707_1314296138610064_3267923709373752612_nO depoimento de hoje é de autoria de Elizabete Tavares, uma das divulgadoras mais ativas da Distonia no Brasil. Ela foi a organizadora da primeira manifestação pela visibilidade das pessoas com Distonia, realizada em São Paulo em maio deste ano, e também é administradora de grupos sobre essa discinesia, no Facebook e no Whatsapp. Elizabete tem uma trajetória de vida repleta de desafios, e também uma força de vontade muito inspiradora. Confira a seguir seu relato.

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“Me chamo Elizabete Tavares, tenho 36 anos, e minha história começa no estado nordestino de Alagoas. Na época, era costume os casamentos serem arranjados, e foi o que aconteceu com minha mãe, quando era adolescente. Ela não teve chances de conhecer seu futuro marido antes, mas logo viu que as coisas não dariam certo e optou por fugir de casa.

Depois de um tempo, minha mãe conheceu o meu pai, se apaixonaram e ela engravidou de mim. No início, foi como um sonho para minha mãe, mas depois as coisas foram desandando, e ela teve que se separar do meu pai quando eu era recém-nascida. Então minha mãe se mudou para São Paulo, me colocou com três meses de nascida em um cesto de palha, fez uma trouxa de roupa e foi embora. Mas, quando chegamos aqui, quase fomos vítimas de um crime. A sorte foi que havia um policial na mesma rua, para quem minha mãe pediu ajuda. Nesse momento, também estava passando uma moça, que ouviu tudo e se ofereceu também para ajudar minha mãe, levando nós duas para a casa dela. Dali em diante, minha mãe pode, enfim, começar a viver…

Ela arrumou emprego de faxineira em um clube e conseguiu, com a ajuda dessa amiga, comprar um cômodo. O tempo foi passando, e minha mãe se apaixonou novamente. O moço era uma pessoa maravilhosa, cuidou de mim, com três anos de idade agora, e da minha mãe. E então eu ganhei uma irmãzinha, chamada Patrícia.

Um dia, minha irmã ficou doente com pneumonia e teve que ficar internada em um hospital. Ela já tinha um ano e onze meses, me lembro de que brincávamos de pular de mãos dadas em cima da cama da nossa mãe. Porém, no dia em que minha irmã teria alta da pneumonia, ela amanheceu sem vida. Um funcionário do hospital notou algo estranho no corpo da criança: ela estava com o pescoço roxo. Foi feita toda uma investigação e descobriram que houve um crime, provocado por uma desafeta da minha mãe, que havia brigado com ela dias antes. Na época, o acontecimento saiu nos jornais, nas rádios… Minha irmãzinha foi enterrada em um caixão cor de rosa, me lembro disso até hoje.

O casamento da minha mãe acabou depois dessa tragédia, e ela não aguentou todas essas tristezas e teve que ser internada por um tempo. Nisso, fiquei sem ninguém da família e sofri demais. Me lembro de que, quando tinha enchente na comunidade, eu ia para a avenida e ficava pedindo dinheiro no farol para comprar doces. Quando minha mãe saiu do hospital, foi a maior alegria das nossas vidas. Nos abraçamos tanto!

Passando um tempo, minha mãe se casou de novo, e tive dois irmãozinhos: uma menina (que nasceu na mesma data que a minha falecida irmã Patrícia!) e um menino. Alguns anos se passaram novamente, minha mãe e o pai deles começaram a se desentender e se separaram. Meus irmãos ficaram morando com o pai após isso, porque ele teria melhores condições de sustenta-los, e senti muito a falta deles, apesar de minha mãe e eu visita-los com frequência.

11133829_10202604838882189_3815709633225533272_nDepois desse período, aconteceram duas coisas muito ruins na minha vida. Com 11 anos, fui molestada por um homem que se aproximou de minha família na época, e só fui conseguir falar sobre isso muito tempo depois. Quando fiz 12 anos, sofri um acidente na escola e fraturei o crânio, ficando três meses internada em um hospital.

Devido a esse acidente, minha saúde nunca mais foi a mesma. Apesar disso, fui vivendo da melhor maneira possível. O tempo foi passando e minha mãe se casou de novo, possibilitando que meus irmãos viessem morar conosco. Fui muito feliz nesse período, mas o meu maior sonho era me casar e construir minha família.

Então, com 15 anos de idade, conheci o grande amor da minha vida, meu marido André. Sou casada com ele até hoje, faz 21 anos que estamos juntos. Quando casei, morei na praia, depois, em Aparecida de Goiânia. Que época boa! Meu marido foi sincero comigo: disse que já tinha sido casado duas vezes antes e que, desses relacionamentos, teve um casal de filhos com cada uma. Eu disse que não havia problemas, mas ainda não sabia que ele havia sido operado (tinha feito vasectomia). E quando ele me contou, sofri muito com essa noticia. Hoje reconheço que Deus tinha um plano: Ele não me deu filhos biológicos, mas sim me presenteou com sete filhos de coração para eu criar (meus enteados e outros que foram adotados).

A partir daí, resolvi me dedicar ao trabalho. Uma amiga minha arrumou um emprego para mim na Mesbla, uma loja de departamentos, e depois no Mappin, que também era uma loja de departamentos. Foi então que conheci o mundo dos importados. Me formei como maquiadora profissional de Yves Saint Laurent, conheci esse mundo maravilhoso e tenho dois diplomas internacionais de Mavala, uma linha suíça. Teve um tempo em que tive que parar de trabalhar para cuidar do meu sogro, pois ele tinha epilepsia, e cuidei da minha sogra também, até o dia em que Deus os levou.

Ao voltar a trabalhar, eu não tinha nem um ano na empresa quando me foi diagnosticada a Distonia. No começo, foi só sofrimento, mas graças a Deus, me adaptei e hoje consigo ter uma vida quase que normal… Sofri muito no começo da Distonia, mas, junto com ela, consegui muitas conquistas que nunca pensei que um dia iriam acontecer… Como, por exemplo, a manifestação pelos direitos das pessoas com Distonia em São Paulo, que resultou na produção de uma reportagem de TV, exibida pela Rede Record nesse ano.

meu-maridoCreio que tudo nessa vida é permissão de Deus! Depois de tudo o que passei, eu poderia ser um ser humano revoltado e acabar fazendo um monte de besteiras, como me prostituir, me matar, usar drogas… Mas Deus tinha um propósito muito grande na minha vida. Ele deve ter pensado: ‘Filha, você vai passar por tudo isso, mas sempre estarei ao seu lado e, quando você menos esperar, vou usar você para poder ajudar as pessoas e lhe guiarei, em nome do meu filho Jesus de Nazaré e na presença do Espírito Santo’. Por isso, eu sempre digo que Deus não escolhe os capacitados, ele capacita os escolhidos!

Agradeço a Deus por essa oportunidade de poder compartilhar minha história. E agradeço ao grande amor da minha vida, meu marido, que também é meu amigo, pela família maravilhosa que tenho e por toda a felicidade do mundo que ele me proporciona todos os dias da minha vida.

Por Elizabete Tavares”.

* Créditos das fotografias: arquivo pessoal.

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