O tradutor-terapeuta e seus sócios Mr. Parkinson e Da. Distonia

O Espaço do Leitor de hoje traz um relato literário de um amigo do Blog Dyskinesis que convive com dois distúrbios de movimento, a doença de Parkinson e a Distonia Cervical. Gonzalo G. Acquistapace, ítalo-uruguaio residente em São Paulo, é tradutor e ghost-writer. Há 10 anos é coordenador de um pronto-socorro de traduções 24 horas. É editor também de uma página de autoajuda no Facebook. Atualmente, realiza cursos intensivos de terapias holísticas e desenvolve projetos relacionados com a função coadjuvante de atividades culturais, intelectuais e físicas na estimulação cerebral e na produção de dopamina nas pessoas afetadas pelo Parkinson. Seu e-mail para contato é tradutor24horas@uol.com.br

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“O tradutor-terapeuta e seus sócios Mr. Parkinson e Da. Distonia

Nos primeiros meses de 2015, tive que aceitar um novo sócio em meu Pronto-Socorro de Traduções, imposto contra minha vontade por implacáveis regulamentos da vida. Seu nome: Mr. Parkinson.

De uma personalidade sempre conflitante, Mr. Parkinson tem se dedicado a incentivar, dentro da equipe do pronto-socorro de traduções, todo tipo de confusões, deslealdades e rasteiras.

Minha primeira reação foi a de tentar livrar-me dele apelando aos mais variados procedimentos médicos. Tenho perdido em quase todas as instâncias. Digo “quase” porque até o momento não tem faltado o que acredito que seja o obstáculo mais importante para Mr. Parkinson: a vontade de resistir.

Pensei bastante antes de dar a conhecer no Facebook tão desagradável notícia aos colegas, clientes e amigos, pois as “ações” do pequeno pronto-socorro de traduções poderiam correr o risco de despencar e até de provocar um “salve-se quem puder” na equipe de tradutores. Mas cheguei à conclusão, somando e subtraindo, e após consultar os sócios e colegas, e alguns clientes, que a transparência informativa é o caminho mais adequado para enfrentar o problema: era melhor que o “mercado” precificasse desde um começo as perdas, num momento em que, por enquanto, a situação estava e continua a estar mais ou menos sob controle. Não me arrependo de ter dado essa dura notícia. Acredito que evitou-se assim um traumático estouro da bolha mais para frente.

Como já disse, desde o primeiro momento, meu sócio Mr. Parkinson tentou me desalentar e até deprimir, a todo custo. Mas, com o respaldo dos colegas tradutores, o apoio de familiares e amigos, o olho clínico de experimentados profissionais da saúde, e, sobretudo, com a ajuda de Deus, continuo com ânimo.

Nos primeiros meses de 2016, Mr. Parkinson arranjou uma aliada que começou a atrapalhar-me muitíssimo mais do que ele: uma senhora misteriosa e perigosa conhecida pelo codinome Distonia Cervical. Escrevo estas linhas em maio de 2017, e posso dizer que, esses mais de 12 meses tendo que lutar contra a Distonia Cervical, têm sido talvez os mais duros, e os de maior sofrimento físico e moral de minha vida. As coisas não terminam aí. Há suspeitas, entre alguns especialistas que me assessoram, de que possa estar querendo entrar em cena a terrível e implacável Atrofia Multissistêmica (AMS).

Continuo a batalhar em todos os campos. Desde um começo, dediquei-me a criar e desenvolver vários projetos com o objetivo de atenuar e retardar os efeitos do Parkinson. Sabendo que o Parkinson vai atacando as funções olfativas e a coordenação dos movimentos, comecei a preparar perfumes. Primeiro, imitando grandes marcas, e, depois, criando minhas próprias fórmulas. Já são quase 100 perfumes, e tenho dado de presente centenas de frasquinhos com essências a amigos, colegas, clientes, médicos, enfermeiras, etc. Os perfumes são preparados artesanalmente, o que requer controle dos movimentos para não derribar os frasquinhos, que são preenchidos com a ajuda de pequenas seringas.

Também tenho desenvolvido outros projetos, todos dados a conhecer pelo Facebook, entre os quais: a utilização de jogos de crianças como o pega varetas e o ioiô, que requerem de coordenação motora das mãos e braços; a mini-gastronomia e a degustação, percorrendo dezenas de padarias e pequenos restaurantes e dando dicas, pelo Facebook, de produtos de baixo custo com aromas e sabores agradáveis; o incentivo para usar jogos gratuitos de memória e reflexos; o canto, o teatro e a arteterapia, para ajudar a diminuir ou estancar a rigidez facial, bucal e até a deterioração das cordas vocais; etc.

Uma das últimas cartadas para contrarrestar esse trio terrível, foi a de injetar toxina botulínica. Duas tentativas terminaram em rotundos e traumatizantes fracassos.

Passei então a experimentar métodos alternativos de tratamento, sem descartar, obviamente, os remédios da medicina tradicional e a valiosíssima neurofisioterapia: magnetoterapia, autossugestão, quiropraxia, acupuntura coreana e chinesa, agulhamento profundo, shiatsu, cantoterapia, Pilates, agulhamento, medicina chinesa, auriculoterapia etc. Tem havido alguns bons resultados com essas técnicas alternativas. Ao ponto de que, apesar de ter chegado aos 62 anos de vida, tomei uma decisão importante: começar a fazer cursos intensivos para tornar-me o quanto antes um terapeuta holístico, à procura de minha autocura, e para ajudar a meus caros irmãos parkinsonianos e distônicos no Brasil e na América latina.

As perspectivas que vêm pela frente não são fáceis. Os caminhos de Deus muitas vezes são assim: apresentam-se como becos sem saída, mas acaba abrindo-se alguma inesperada saída, um atalho, uma frestinha que seja. Os cursos para tornar-me um terapeuta holístico estão bem avançados, e estou literalmente empolgado. O importante é não perder a vontade de lutar. A autoterapia e a terapia passaram a ser uma das motivações de minha vida.

Gonzalo G. Acquistapace”.

* Créditos das fotografias: arquivo pessoal.

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